quinta-feira, 3 de maio de 2007

O Futuro da Televisão e a Televisão do Futuro

A televisão na era digital: Ciclo de debates universitários

A Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa, recebeu no dia 27 de Março, o Ciclo de Debates Universitários sobre a Televisão na Era Digital, no âmbito das comemorações dos 50 anos da RTP. Com as participações do Ministro dos Assuntos Parlamentares, Dr. Augusto Santos Silva e do Dr. Almerindo Marques, Presidente do Conselho de Administração da RTP. O debate tem início com a comunicação do Prof. Doutor Francisco de Campos intitulada “IPTV: A televisão para um novo estilo de vida”. Os comentários ficam a cargo de Dr. Francisco Mascarenhas, director de engenharia e tecnologias da RTP, e de Dr. Jorge Wemans, director da RTP2 numa vertente mais tecnológica em relação aos conteúdos. E finalmente como moderador, Dr. André Sendin, professor da ESCS.

Dr. Augusto Santos Silva:
O Dr. Augusto Santos Silva, expôs o conceito de que o aparecimento da Televisão Digital Terrestre (T.D.T.) poderá trazer não só uma revolução para a televisão, mas também para os hábitos comunicacionais existentes. O Ministro foi claro em dizer que a era digital traz consigo consequências que podem vir a mudar a maneira como são transmitidos e prestados os serviços de comunicação social. A exemplo do que se passa pelo contexto europeu, a televisão em Portugal está diante de uma nova possibilidade de mostrar os seus produtos e serviços.

As mudanças residem no facto que a “União Europeia iniciou uma revisão cirúrgica da legislação sobre a televisão nos seus estados membros”. Os serviços de comunicação audiovisuais ‘modernos’ passam-se a integrar no conceito tradicional de televisão. Com a chegada dos serviços ADSL, ocorreu a possibilidade de surgimento de canais dos mais variados formatos de conteúdo. E ainda na internet, temos a oportunidade de utilizarmos uma televisão, programada para vermos o que queremos, quando e como entendermos.

Mas essa multiplicação de conteúdos está a caminho de ser colocada sobre o mesmo conjunto de leis que hoje regem o formato da comunicação social já estabelecido. Segundo Dr. Silva, a mutação tecnológica presente não implica o abandono de todas as políticas públicas e funcionais do sector, algumas delas devem ser apenas adaptadas para que se contextualizem.
Mas o que pode haver de novo nessa política pública?

1. Modificações necessárias na matéria de regulação dos direitos de entrada no audiovisual: hoje faz-se por licenciamento ou autorização – por parte de uma instituição independente do estado mas com nomeação governamental – os canais de acesso livre (foram licenciados) ou outros – de serviço público – são concessão e os da rede cabo são apenas autorizados. Estas barreiras se fazem sentido para os fins de bens públicos, deixarão de fazer sentido no caso dos conteúdos disponíveis na Internet.
Proposta: quando os serviços televisivos são transmitidos através da Internet (através de registo aberto) terão apenas de se registar, sem qualquer barreira à entrada. Mas no exercício da actividade de televisão, deverá haver uma neutralidade tecnológica, com igualdade de tratamento jurídico quando aos seus conteúdos.

Segundo o Ministro, as normas reguladoras serão diferentes consoante a natureza e a plataforma desses canais. As obrigações gerais referem-se aos canais generalistas de cobertura nacional (aí a lei deve ser um pouco mais exigente). Teremos também uma legislação mais flexível no caso dos canais temáticos e que não têm uma cobertura nacional.

Será preparado um concurso para a televisão digital terrestre: por isso, será necessário mudar as leis; mas o governo não tem ainda a urgência em aprovar uma lei quanto aos serviços não lineares.

1. Pelo acordo Geral entre os ministros da União Europeia. Caberá à presidência portuguesa no segundo semestre terminar a directiva comunitária para a lei da televisão digital terrestre;
2. Política pública para a comunicação social: o analógico em TV vai terminar. O compromisso europeu é que as emissões analógicas terminem até 2012. Mas a TV que ocupa o espaço hertziano é o que garante o acesso total gratuito e só o poderemos desligar quando houver digital para todos e principalmente, o direito de acesso à informação.
3. Sobre a política de concorrência: a T.D.T. terá um acesso semelhante ao que vemos na TV hoje. Em Portugal, deverá aparecer um operador para concorrer com a Rede Cabo.

O modelo do concurso: modelo separado – dois concursos – um para a atribuição para a atribuição da licença de transmissão e outro para a selecção de PayTV. Vantagem deste modelo separado: tornar a operação Multiplexer de canais generalistas totalmente independente. Para que a TV digital terrestre tenha vencimento é muito importante que os actuais operadores de TV estejam nesta era digital. É muito importante que os nossos operadores ‘históricos’ se modernizem, aderindo a esta nova era digital e, principalmente, o operador público.

Dr. Francisco Mascarenhas:
Na intervenção do Dr. Eng. Francisco Mascarenhas, pode-se observar a vertente tecnológica deste seminário. Fomos expostos a uma explicação sobre o caminho que a RTP traçou para se preparar para a nova era da televisão. Pois tendo a distribuição do sinal de Televisão como ferramentas a radiodifusão, os satélites, o cabo, a própria Internet e o sistema ADSL, a dita TV do ‘futuro’ terá como canais de distribuição apenas o Satélite; o cabo; a Internet, o sistema ADSL e a TV móvel. Os programas serão distribuídos por: VHS DVD; iPod; Pay Per View; Video on demand.

Segundo o Dr. Mascarenhas, nós teremos muitos e variados métodos de chegar ao receptor e que precisamos nos perguntar: Como é que poderemos viver neste mundo competitivo?
1. Apostar na presença dos seus conteúdos em todos (ou quase todos) os meios de difusão.
2. Garantir a diversificação e actualidade dos seus conteúdos, adequando-os aos meios de difusão utilizados;

Conteúdos:
1. Estúdios de produção de Programas e Informação (com meios adequados; adoptando meios produtivos com alta eficiência e meios económicos);
2. Produção de preços competitivos e tecnologia que facilite a interoperabilidade com os novos meios de difusão.
3. Cadeia de produção baseada em servidores e redes de alto débito;
4. Garantir uma correcta gestão da mudança (há que adequar todos os meios);
5. Investir, por isso, na formação e requalificação dos seus trabalhadores

A RTP tem apostado na adaptação de todos os conteúdos para a televisão do futuro. Criando “um dispositivo interno de rede para os operadores de distribuição através de processos rápidos e eficientes; Economia de espaços: uma tape do novo robot (500gb = 30mbpor segundo 25 horas) há uma redução substancial do número de cassetes”. Até Setembro deste ano todos os canais da RTP deverão estar a funcionar sob este novo processo.

Dr. Francisco Campos:
Da Universidade de Santiago de Compostela, o Professor Francisco Campos, apresentou-nos uma visão ‘da T.D.T. até a futura Internet TV’, numa óptica espanhola e europeia. Após alguns dados técnicos sobre as perspectivas do futuro das conexões de internet e suas novas funções, podemos perceber que, quanto mais avanços tecnológicos existem para nos facilitar a vida, continuamos com cada vez menos tempo. Em alguns do slides apresentados, continham informações sobre a visão de uma convergência dos aparelhos tecnológicos de comunicação social, dando origem a uma era digital a partir da segunda década do século XXI.
Não há nada grátis: O tempo é o factor crítico da mudança na economia industrial, a divisa mais valiosa da sociedade pós-industrial é a atenção. A atenção tenderá cada vez mais a centrar-se no preço e, o que o desejo terá que pagar por ela (a atenção), o que supõe pensar mais na qualidade do que na quantidade: Portanto: prestemos atenção ao gratuito!

Dr. Jorge Wemans:
Segundo Wemans, a televisão como a conhecíamos há alguns anos passará a ser tratada como meio de comunicação social ‘tradicional’ que possivelmente ocupará em nossas cabeças um lugar ao ‘lado do rádio’. Teremos quase sempre a oferta a comandar a procura: quanto mais tecnologias houver maior será a procura, porque maior a oferta. As tendências indiciam que num prazo mais ou menos curto teremos tudo num mesmo aparelho com possibilidades audiovisuais. Neste campo não basta procurar interpretar o que pode ser o futuro: tem de haver uma opção e uma vontade para vermos o futuro. Além das tendências e da tecnologia, há ainda outras possibilidades e necessidades de termos opções colectivas.
Enquanto essa ‘colectividade organizada’ poderemos ter a opção de dizer se queremos ou não certos programas. No contexto europeu e em Portugal, deveram poder continuar a ter a TV como até então a tem ou optar pelas novas fórmulas.

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