sábado, 14 de julho de 2007

Relações Públicas, Comunicação Empresarial, afinal o que somos?

Podemos dizer que muitos acreditam que nascemos fazendo relações públicas, que é um nascer formado numa profissão. Se não nascemos e passamos a vida como médicos, porque RP é tão fácil ser e fazer? Será que esta ideia se faz pelo desconhecimento que temos diante do que envolve a simplicidade do nome?

Apresentamos Grunig aos que andam pelo mundo nascendo RPs. A “atividade do Relações Públicas é planejar, implantar e desenvolver o processo total da comunicação institucional da organização como recurso estratégico de sua interação com seus diferentes públicos e ordenar todos os seus relacionamentos com esses públicos, para gerar um conceito favorável sobre a organização, capaz de despertar no público credibilidade, boa vontade para com ela, suas atividades e seusprodutos”.

Poderia pensar no poder do Marketing em relação aos produtos e a sua promoção, enfatizando a marca. Relações Públicas envolve-se da marca pela identidade da organização e na filosofia que envolve este universo da empresa, a preocupação das RPs é fazer com que a imagem transmitida seja igual a imagem percepcionada pelo público. Pretendemos alcançar as mentalidades e criar relações entre a organização e os seus públicos, assim podemos favorecer a permanência da organização e encontrar suporte para as ações implementadas.

Parece-nos tão familiar este simples nome. Será que pensamos nas relações que estabelecemos publicamente, ou quem sabe, nas pessoas que recepcionam nas discotecas?

Fugindo das pessoas que não estudam mas que entram nas discotecas e como não encontram um conceito para definir a sua profissão, escolhem o “sonhado” Relações Públicas, nos deparamos com Comunicação Empresarial. Sim, a opção por um nome mais luxuoso em que os leigos pensam nas empresas e logo valorizam a profissão.

Vivemos num mundo onde a palavra “Comunicação” envolve o nosso dia-a-dia, somos vítimas dos conceitos, usamos livremente as palavras e mal sabemos o que determinadas palavras significam. “Empresarial” parece importante, atribuímos status ao mundo dos negócios porque somos mesmo vítimas dos conceitos, somos escravos das palavras que consideramos mais importantes que outras. Por que as Relações Públicas são marginalizadas por certas pessoas? Isso continua a ser fruto do “nascer RP”? Parece desta forma, que não estamos livres dos desenganos de quem não conhece a profissão.

Querem nos atribuir o curso de Comunicação Empresarial ou querem nos atribuir o Relações Públicas? Diante de tantas dúvidas, resolveram nos atribuir os dois. Como ficam os RPs das discotecas? Que grande preocupação! Os formados passam a ser duas coisas e os que nasceram passam a ser uma só? Não sabemos o que o “mundo” das celebridades está estudando para este caso, sabemos apenas que no mundo dos pobres mortais é necessário estudar para se ter uma profissão.

O nosso mágico templo ainda é a faculdade, as horas dedicadas a leitura e aos trabalhos escolares. Nascemos para ser o que desejamos, mas somos conscientes de que precisamos estudar para ter um diploma e um “nome” colado a nós, somos produtos da sociedade e recebemos as etiquetas com o código de barras.

Estas etiquetas nos envia com algum conhecimento para o mercado de trabalho, pouco diante do mundo cheio de novidades e de grandes transformações, mas conhecemos alguns nomes e eles quem sabe nos ajudarão na busca do melhor caminho para resolver os conflitos.

Não se pretende criticar quem se nomeia RP sem formação, pretende-se que cada um seja capaz de reconhecer o que envolve a profissão e que tenha liberdade para atribuir o nome que quiser, mas que não se esqueça que as etiquetas da sociedade devem encontrar o lugar certo para que as mesmas sejam atribuídas. Se a universidade não forma RPs, por que existem as universidades? Então vamos usando as palavras, brincando com os nomes e sendo o que desejamos ser, mas vamos assim mantendo nossa liberdade e usando indevidamente o que não nos pertence por direito. Podemos pensar no risco que representa se desejarmos num instante nos tornarmos médicos, já pensou o perigo que um simples desejo, um nome, pode fazer na sociedade?

Pretendemos gerar discussão, dar informação para aprendizagem e para a reflexão. Mostrar um pouco do que significa Relações Públicas e aprender mais e mais. Não sabemos tudo, ainda bem que não o sabemos, assim geramos troca de informação e aumentamos o nosso conhecimento.

Já que o “mundo dos nomes” envolve o homem como um ser cada vez menos pensante, podemos mudar o significado das nossas ações, dirigir melhor os nossos comportamentos e nos tornarmos “uma coisa muito melhor que simplesmente homens”. Vamos ao resgate do homem = ser pensante.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Why Don't You Get a Mac?

Ou “Por que você não troca para um Mac”. Esta é a nova (nem tanto) provocação da Apple em relação aos PCs. No entanto a Apple rendeu-se aos processadores Intel. Boa decisão? Talvez como estratégia de marketing (atrair novos usuários, custos reduzidos no preço final). A verdade é que para os usuários dos antigos Macs a mudança não é tão positiva. Os antigos Macs são muito mais estáveis em comparação aos novos.

Sou usuário mac desde 2004 e tenho um iMac G4 e um MacBook intel, as diferenças são muito grandes no que toca a estabilidade do sistema operativo. Nunca tive problemas com o Finder (Explorer.exe nos PCs) em meu iMac, no entanto quando a mudança de hardware aconteceu o OS (sistema operativo) foi redesenhado para a nova arquitectura (Intel) e não sei se foi pelos prazos à cumprir mas, o OS redesenhado traz alguns bugs (imperfeições), coisa que não acontecia antes. No entanto sua performance consegue ser superior em programas de edição avançada como o PhotoShop (edição de imagem), Cinema 4D (edição de 3D), Final Cut Pro (edição de vídeo) e alguns outros. Porém os antigos usuários não estão satisfeitos por não ter a mesma confiança que tinha com os G4 e G5.

Os parágrafos anteriores falam evidentemente do OS X 10.4 ou Tiger como são conhecidos os sistemas operativos Mac. A novidade é o tão esperado OS X 10.5 ou Leopard que teve um atraso considerável porque a Apple preferiu ocupar-se com o iPhone. O Leopard será lançado em Outubro e poderá surpreender os utilizadores dos antigos Macs se tiver sido corrigido o problema da estabilidade do Mac Intel. Já tive a oportunidade de testar o Leopard (versão Beta) no Mac Intel e digo desde já que mais uma vez a Apple tem um sistema operativo indiscutivelmente inovador.

No curto espaço de tempo que consegui ter o Leopard no meu computador, pude conferir as novas funcionalidades, mas ainda tive problemas com os mesmos bugs que encontrava no intel. Apesar disto continuo a trabalhar apenas em Macs e não penso em trocar para PC porque a integração do hardware Apple com o Mac Os é algo que ainda não vi num PC.

Para quem quer trocar o PC pelo Mac o meu conselho é: não agora. Talvez devamos esperar por uma estabilidade do Mac Intel ou comprar um G5 usado (particularmente não gosto de comprar usados). A Apple tem vindo a ganhar muita notoriedade ultimamente mas penso que seja talvez para encobrir seus erros recentes e ganhar cada vez mais quota nos mercados europeu e asiático. Não tinha tido conhecimento que a Apple estivesse tão em voga como na actualidade, ainda não sei até onde isso pode ser considerado positivo para uma marca que construiu seu conceito pensando na diferenciação de todas as outras e a sensação de status de quem tinha um Mac seria uma pessoa “cool”.

Apesar de “popularizado” o Mac ainda tem certos inconvenientes para o utilizador de PC que queira trocar para um Mac, como por exemplo, a manutenção que mesmo a utilizar a mesma arquitectura de um PC, o Mac ainda tem placas com versões próprias para Mac e os produtos e acessórios Apple são sempre mais caros, embora haja marcas de periféricos especializadas em Mac, os preços ainda não são os melhores. Outra desvantagem seria a compatibilidade entre Mac vs Pc, apesar da Microsoft fazer programas para o Mac e a Apple fazer programas para PCs, quando há trocas de ficheiros (que contenham acentos no nome) entre os dois, os acentos perdem-se e ficam simplesmente impossível, muitas vezes a leitura, os programas que existem para os Macs, embora sejam muitos, não se compara à quantidade destes para PCs, particularmente tive problemas em conseguir certos softwares para estudar porque simplesmente não existiam para Mac.

Por enquanto a diferença entre um Mac e um PC (considerando tudo o que foi dito acima) está no sistema operativo, mas ainda assim, o OS da Apple é muito mais rápido e funcional. Como já conseguem perceber eu prefiro o Mac OS em relação ao Windows. Porque apesar do que está a acontecer com a Apple actualmente o Windows ainda apresenta muito mais falhas ao nível operacional, como por exemplo, a instabilidade e a quantidade de bugs, mas não vou falar sobre o Windows porque deixei de ser utilizador há muito tempo.

Quis com este texto mostrar em curto espaço de tempo a sensação de se ter um Mac para quem nunca teve a oportunidade de manusear o computador de uma empresa que aposta em diferenciação seja do design (cada produto tem um design inovador), na própria inovação (o Mac tem funcionalidades que são impossíveis de se ter no Windows) e até mesmo experimentação (ao trabalhar num Mac consegue-se realmente uma nova experiência de utilização de um computador).

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Piaget, Vygotsky e os Miúdos na Publicidade

O Brasil, como os demais povos de sua categoria, não conta senão como massa inerte de manobra, não é senão parcela insignificante num todo imenso em que se dilui e desaparece..."
Caio Prado Jr.

Se considerarmos que a publicidade não é aleatória, mas pesquisada e profundamente estudada, diríamos que justamente por que conhece a criança e os seus estágios de desenvolvimento é que ela é tão eficiente e eficaz. As agências de publicidade, antes de lançar qualquer produto, fazem pesquisas junto ao seu target, inclusive o público infantil. Além disso, contratam psicólogos e pesquisadores do comportamento, para traçar o perfil do consumidor, portanto são profundos conhecedores do género humano.

Como estruturou Piaget, os estágios de desenvolvimento são: sensório-motor, objetivo-simbólico ou pré-operatório, operacional concreto e operacional abstracto ou formal. No início do segundo período, objetivo-simbólico ou pré-operatório, que compreende aproximadamente entre 2 a 6 ou 7 anos, surge a função simbólica, ou seja, ela surge entre 2 e 4 anos de idade. É o início da interiorização dos esquemas de acção na representação. Após os 4 anos, o raciocínio dominante é o da intuição; a criança raciocina e dá explicações baseadas nas intuições e percepções e não na lógica. Por essa razão, muitas vezes ela encontra na fantasia, a compreensão do mundo real. Ao se tornar adolescente, ela é capaz de distinguir o real do possível e fazer julgamentos através da lógica.

Se a fantasia é importante para a criança e se a função simbólica se desenvolve na fase pré-operatória, a publicidade dirigida para essa faixa etária é repleta de fantasia, para que haja a identificação da criança com o produto, para que a criança assimile esse produto, e haja interacção sujeito – objecto. A publicidade quer, nada mais, nada menos, que haja a relação da criança com o produto, que a criança passe a desejar esse produto. Aparentemente a propaganda parece uma coisa extremamente manipuladora, sob um aspecto mais comercial e lucrativo; a publicidade está manipulando os desejos das pessoas, provocando esses desejos e, consequentemente, provocando o consumo.

A fantasia pode ser importante ainda para desenvolver o juízo moral na criança, pois existe uma relação entre afectividade e cognição. Da mesma forma que compreende o mundo real através da fantasia, ela pode aceitar as regras morais como aceita as regras do jogo e da brincadeira. Para Piaget, a educação moral (dada pelos pais e outros membros da sociedade, inclusive professores), é voltada para a criança controlar seus desejos e sentimentos em favor do grupo, isto é, a sua vontade não pode prejudicar o grupo. O desenvolvimento moral é paralelo ao desenvolvimento do raciocínio lógico, portanto a compreensão do certo e errado se dá também através da razão. A afectividade move a acção ao mesmo tempo que a razão identifica sentimentos e desejos e busca êxito nas acções.

Como vimos, Piaget é essencialmente epistemológico e seu enfoque é construtivista; para ele, o desenvolvimento não depende da aprendizagem, ocorre “de dentro para fora” do sujeito e o professor deve ser apenas um “facilitador”. Desse ponto de vista, a publicidade pode ter o papel de facilitador na compreensão do universo, pois se utiliza da fantasia.•

Em relação aos conceitos de Vygotsky, as funções psicológicas superiores dependem da aprendizagem, são as que envolvem, por exemplo, consciência, intenção e planeamento. O homem nasce equipado com características próprias, mas é o animal menos dotado para sobreviver, necessita dos cuidados de alguém experiente. A internalização é o processo em que fatos e fenómenos exteriores se transformam num processo intrapessoal, interior, ou seja, uma actividade externa é reconstruída internamente. A internalização é possível através da mediação de outros (adultos ou crianças maiores) com o sujeito através da aprendizagem. Por isso, diferentemente de Piaget, para Vygotsky o desenvolvimento ocorre mediante a aprendizagem, ele depende da aprendizagem.

A publicidade, para atingir o seu público-alvo, o seu target, passa pelo processo de internalização e utiliza instrumentos da sedução e da retórica, conquistando e facilitando a apreensão pelo sujeito, tanto adulto quanto infantil. São instrumentos simples e fáceis de serem assimilados, despertando os órgãos do sentido e a memória e, com a repetição, acabam fazendo parte do repertório do sujeito. Por exemplo, o logótipo da McDonald’s tantas vezes apresentado a cada comercial, já é reconhecido por crianças que mal sabem falar, o M estilizado da empresa já faz parte do repertório infantil, em diversos lugares do mundo, onde existem lojas da rede.

Outro conceito importante para esse autor é o da zona de desenvolvimento proximal. Muito antes de frequentar a escola, a criança já está no processo de aprendizagem. Entre o nível de desenvolvimento real (como ela está hoje) e o desenvolvimento potencial (o que ela virá a ser ou onde poderá chegar), existe a zona de desenvolvimento proximal. A escola deve justamente reconhecer essa zona, essa distância, e desenvolver actividades a para promover o aprendizado.

Ao meu entender, a publicidade consegue captar essa zona de desenvolvimento proximal e servir como agente facilitando o desenvolvimento potencial; ela muitas vezes substitui o adulto, despertando o desejo de comer um sanduíche ou uma salsicha, ou de brincar com determinado jogo ou com bonecos de plástico. Na realidade, a propaganda estimula o desejo e o consumo de valores e objectos numa sociedade específica. Vygotsky também considera sempre a sociedade específica em que vive o sujeito e a sua cultura.

Tanto do ponto de vista piagetiano quanto do olhar de Vygotsky, a publicidade é um factor de mudança e influencia o desenvolvimento e o processo de aprendizagem da criança, porque faz parte da cultura. Ela não só se utiliza da cultura, para estimular o consumo, mas transforma a cultura, é um agente transformador. A publicidade e, a propaganda mais ainda, causam transformação de hábitos, de costumes e de consumo.

Como a publicidade objectiva gerar lucros, ela usa de um conhecimento bastante interessante, que é o desejo do adulto: status, poder e sexo. Ela faz a mesma coisa com a criança. Qual é o estímulo que a criança recebe? No nascimento ela recebe estímulos e condições para comer e dormir. A comida tem um papel extremamente importante na vida dela, inclusive do ponto de vista psicológico – aquele que alimenta (a mãe) é o provedor de subsistência, de carinho, é a figura poderosa e muito importante psicologicamente. Depois ela passa para a fase do brinquedo, tudo passa a ser muito colorido, ela passa a ser estimulada a brincar por que o objectivo é a sua socialização. Qual é o objecto de desejo e de poder para essa criança? Ter, comer aquilo que é chic, que é moderno, que é diferente e que os outros ainda não fizeram, e possuir brinquedos como forma de status também. É por isso que ela gosta da McDonald’s, quer ir à Disney e quer brinquedos como os Pokémons, ela quer estar socialmente aceita e pessoalmente satisfeita.

Mas não estamos num beco sem saída. Se a publicidade consegue estimular o consumo, provocar o lucro e tem o poder de transformar a cultura, significa que ela tem um grande poder. E esse poder pode ser usado de várias formas. Professores e alunos podem conhecer todos os mecanismos da publicidade, apropriar-se deles e construir com criatividade prol de suas necessidades e interesses. Precisamos então, compreendê-la melhor e usá-la de uma maneira a promover o ser humano e não a mecanizá-lo.

Ainda não percebo se sou um crítico ou um sonhador, mas existem possibilidades muito grandes de contribuição não só da publicidade como da comunicação social em geral, para a reactivação de nossa cultura e restabelecimento da dignidade dos povos.

Obs: Vygotsky e Piaget não são especialidades minhas, por tanto, podem haver erros de interpretação das suas ideais e conceitos. Este texto foi inspirado pela minha ultima prova de Teoria e História da Publicidade e mais algumas coisas lidas pela Internet.