segunda-feira, 19 de março de 2007

Soon this all will come to an end...

Sinto-me ainda muito pequeno para responder tais perguntas, meu senhor
( Duarte Seder)


Análise de excerto de Julia KRISTEVA em seu livro História da linguagem.


O que é a Linguagem?

Esta pode e deve ser substituída por uma outra:

Como é que devemos pensar a Linguagem?

Aquilo a que chamamos linguagem tem uma história que se desenrola no tempo. Cada época/civilização vê a linguagem em função dos moldes que a formam a si mesma. Se no séc. XVIII predominava uma visão teológica da linguagem (origem cristã), no séc. XIX a linguagem era tida, por uma perspectiva historicista, como uma evolução que teria ocorrido ao longo dos tempos.

‘Hoje em dia vêem a linguagem como um sistema e sob uma perspectiva do seu funcionamento’.

Será que existe um Pensamento independente da Linguagem?
A Linguagem é, ela própria, Pensamento?

São algumas das perguntas lançadas pela autora.

A Linguística - termo usado pela primeira vez em 1916 - supõe a linguagem como objecto de ciência e ensina as leis do seu funcionamento. Quando falamos em linguagem, falamos em demarcação, significação e em comunicação. Neste sentido podemos afirmar que todas as práticas humanas são tipos de linguagem.

A Linguagem, a Língua, a Fala, O Discurso.

A linguagem é um sistema complexo onde se misturam materialmente os sons articulados da fala, a rede de marcas da escrita e o jogo de gestos presentes na gestualidade. Simultaneamente a linguagem é para o pensamento o modo de ser, a sua realidade e a sua realização. Ou seja a linguagem é a matéria do próprio pensamento e factor essencial à comunicação social e logo fundamental à existência de uma sociedade. Não há sociedade sem comunicação. O homem fala e isso quer dizer que é um ‘animal social’.

“Falar é falar-se”

As funções da linguagem são:

- Produzir e exprimir um pensamento (a linguagem é o único modo de ser do pensamento e, ‘hoje em dia’, não existe um pensamento extra linguístico)

- Comunicar Não pode existir uma destas funções sem a outra

A linguagem é um sistema com regras precisas de funcionamento, uma estrutura determinada e transformações estruturais que obedecem a leis estritas. A linguagem é também um processo de comunicação de uma mensagem entre dois sujeitos falantes, pelo menos, sendo um o destinador ou o emissor, e o outro, o destinatário ou o receptor.

Cada sujeito falante é simultaneamente o destinador e o destinatário da sua própria mensagem. Assim, a mensagem destinada ao outro é destinada em primeiro lugar a quem fala; onde se conclui que falar é falar-se.

A língua é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo; não pode ser modificada pelo indivíduo falante e parece obedecer às leis do contrato social que é reconhecido por todos os membros da comunidade.

A fala, são combinações individuais, pessoais, produzidas pelos sujeitos falantes e os actos de fonação necessários à execução dessas combinações; é ‘sempre individual e o indivíduo é sempre senhor dela’, e como disse Saussure, é ‘um acto individual de vontade e de inteligência’.

As duas partes são inseparáveis uma da outra. Para que a fala se possa produzir, a língua é necessária anteriormente, mas ao mesmo tempo não há língua em abstracto sem o seu exercício na fala. São assim necessárias duas linguísticas inseparáveis uma da outra: linguística da língua e linguística da fala. O termo discurso designa de um modo rigoroso, e sem ambiguidade, a manifestação da língua na comunicação viva e designa também qualquer enunciação que integre nas suas estruturas o locutor e o auditor, com o desejo do primeiro de influenciar o segundo.

O signo linguístico

Vários pensadores e escolas concordam que o signo é a ideia fundamental da língua. As palavras estão associadas unicamente às coisas que elas significam. O signo por vezes vem substituir um facto ou um objecto evocando numa pessoa, este mesmo objecto ou facto ausente. O signo parece obedecer a uma convenção ou um contrato entre as coisas e os seus significados, e á forma falada da sua existência. No caso, o signo age como intermediário entre a coisa ausente e nós. Podemos dizer teoricamente, que os signos estão na origem de qualquer simbolismo, pois os primeiros tipos de simbolismos são na linguagem e pela linguagem, raciocinando assim, Peirce conseguiu classificá-los em três categorias: o ícone, o índice e o símbolo.

O ícone refere-se ao simbolizado pela sua semelhança com ele, como um desenho de um objecto que nos vem trazer ao pensamento a imagem do objecto real.

O índice, não se parece com o objecto, mas é basicamente afectado por ele, como o fumo e o fogo.

O símbolo baseia-se numa convenção, numa espécie de lei como os símbolos da cabala para um judeu, o crucifixo para um católico, o olho de órus para um místico. Embora o desenvolvimento de Peirce tenha sido de suma importância, é a Saussure, que devemos o primeiro estudo científico e exaustivo sobre o signo linguístico no seu Curso de Linguística Geral (1916). Aqui ele observa que é impossível conceber que o signo linguístico associa uma coisa a um nome, ‘a ligação que o signo estabelece é entre o conceito e a imagem acústica’. Imagem acústica não é o som e sim a marca psíquica desse som, e é o nosso sentido que dá essa representação.

Sendo assim, Saussure diz que o signo é uma realidade com duas faces, sendo um o conceito propriamente dito, e a outra a imagem acústica. Enfim, para Saussure, ‘o signo linguístico é definido pela relação significante-significado, da qual é excluído o objecto designado sob o termo de referente’.

Um dos postulados de base da linguística, indica que o significante não tem relação com o significado, como no texto é citado o exemplo da palavra pedra, que em cada idioma tem um formato, mas que é obedecido voluntariamente por todos o sujeitos que falam o mesmo idioma, mesmo não havendo um motivo real para ligar o significante e o significado. Saussure define-os como não motivados, mesmo que as onomatopeias e certas exclamações que parecem imitar os padrões simbolizados nos pareçam motivados, não são suficientes para suprimir este postulado.

Assim a teoria, diz que a palavra não pode ser pensada como unidade mínima da língua, porque a palavra só ganha efeito completo quando está inserida numa frase, por outro lado a mesma palavra poderá ser decomposta numa unidade ainda menor, os morfonemas, eles mesmos, são portadores de significado, pois juntos constituem o significado da palavra. O próprio Martinet, diz que na semiologia não há necessidade de palavras e propõe que substituamos a noção de palavra pela de sintagma, grupo de vários monemas, tentando assim encontrar os traços fundamentais da linguagem humana.